O cultivo de algodão é uma atividade importante para a economia brasileira, sendo o país o segundo maior produtor mundial de algodão em pluma. No entanto, a cultura enfrenta diversos desafios, como o alto custo de produção, a competição com fibras sintéticas e a incerteza climática.
Desafios e estratégias na cultura do algodão
Um dos desafios mais significativos é o estresse climático. As mudanças climáticas estão tornando as condições climáticas mais extremas, o que pode causar perdas significativas nas lavouras de algodão. O estresse hídrico, as altas temperaturas e as geadas são alguns dos principais problemas que a cultura enfrenta.
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Para enfrentar esses desafios, os produtores de algodão precisam adotar estratégias de manejo adequadas. O uso de bioestimulantes é uma estratégia promissora para melhorar a tolerância das plantas ao estresse climático. Os bioestimulantes são compostos naturais que estimulam o crescimento e o desenvolvimento das plantas, aumentando sua capacidade de resistir a condições adversas.
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Um estudo recente realizado pela Embrapa Algodão mostrou que o uso de bioestimulantes pode aumentar a produtividade do algodão em até 10% em condições de estresse hídrico. Os bioestimulantes também podem ajudar a reduzir o abortamento de flores e frutos, o que é um problema comum em condições de estresse climático.
Além do uso de bioestimulantes, os produtores de algodão também podem adotar outras estratégias para enfrentar os desafios do clima. O planejamento do plantio é importante para evitar o plantio em períodos de estresse climático. A escolha de variedades adaptadas às condições climáticas locais também é importante.
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O investimento em pesquisa e desenvolvimento também é fundamental para o desenvolvimento de novas tecnologias que possam ajudar os produtores de algodão a enfrentar os desafios do clima. A Embrapa Algodão está desenvolvendo novas variedades de algodão mais resistentes ao estresse climático.
Com a adoção de estratégias adequadas, os produtores de algodão podem reduzir os impactos das mudanças climáticas e aumentar a produtividade da cultura.
Entrevista completa da Aline Merladete, do Portal Agrolink, com o Ewerton Dilelis, Gerente Técnico da Nitro, sobre os desafios enfrentados na cultura do algodão.
Portal Agrolink: Quais são os principais desafios enfrentados pelos produtores de algodão em relação ao estresse climático, e como as estratégias mencionadas, como o manejo direcionado e o uso integrado de produtos químicos e biológicos, podem ajudar a superar esses desafios?
Ewerton Dilelis: Para falar sobre os principais desafios da cultura do algodão, talvez seja interessante a gente entender as necessidades de cada fase da cultura para compreender e listar os desafios que ela vai encontrar ao longo do seu ciclo de desenvolvimento. Então, se a gente pudesse aqui dividir a cultura do algodão em quatro grandes fases, a fase número um seria a fase de desenvolvimento inicial.
É a fase que vai do plantio até o aparecimento do primeiro botão floral. Essa fase é marcada pelo intenso desenvolvimento do sistema radicular. Então, tudo que a planta prioriza nesse momento é formar raiz em profundidade. E quais são os desafios dessa fase? O agricultor pode ter uma condição de excesso de água no solo, em algumas regiões do país, ou estresse hídrico em outras regiões do país, ou a gente pode ter tempo nublado, que vai também prejudicar o desenvolvimento da planta, ou também o uso de pó emergente, de ebicidas pós-emergente, que também causa um. Uma certa fitotoxidez na planta e vai impactar na formação de raiz, então tudo isso vai comprometer por uma menor formação de raiz. Então aqui uma estratégia de manejo seria, por exemplo, o uso de bioestimulantes, como o caso dos extratos de algas, que vão contribuir para uma maior formação de raiz nessa cultura do algodão, nessa fase importante de formação de raiz.
A fase número dois seria a fase de desenvolvimento vegetativo, então é a fase que vai do botão floral ao aparecimento da primeira flor branca na planta, que é a fase F1. Essa fase é marcada pelo desenvolvimento vegetativo e crescimento de planta, então a planta começa das saltos de crescimento e para isso o agricultor precisa adotar estratégias de uso de regulador de Então regulador de crescimento tanto para regular o tamanho de planta, mas também o tamanho de folha e a arquitetura de planta.
Outra demanda dessa fase é uma intensa demanda nutricional. Então é importante que o agricultor tenha feito as correções de solo, pensando tanto em macro, mas também micronutrientes via solo. E aqui é uma fase de demanda também de complementação de micronutrientes via folha, para poder suportar essa alta demanda que essa fase vegetativa apresenta. A fase número 3 seria a fase de florescimento e frutificação. Então é a fase que vai de F1 até C1, que é o aparecimento dos primeiros capulhos. Essa fase é marcada pela formação de botões florais e ramos reprodutivos.
Então é uma fase de alto gasto energético pela planta de algodão, uma vez que ela começa a desenvolver suas estruturas reprodutivas. A cultura do algodão por si só apresenta naturalmente uma taxa elevada de abortamento de estruturas. O desafio do agricultor aqui é entender o cenário climático, que geralmente, nesse período, conflita com condições, por exemplo, de estresse hídrico e altas temperaturas, e às vezes tempo nublado, e tudo isso compromete para um maior abortamento de estruturas reprodutivas. O agricultor, como manejo, pode atuar na fisiologia da cultura, por exemplo, com o uso de aminoácidos ao longo do ciclo, preparando fisiologicamente essa planta para poder ter uma maior retenção de estruturas.
Momentos-chave de posicionamento seria a fase de B1, F1, F4, e às vezes pensando em ponteiro terço médio, F9. Quando a gente fala da fase número 4, a gente está falando da fase agora de maturação, que é a fase de enchimento de maçã e qualidade de fibra. Nessa fase, a cultura do algodão tem uma alta demanda de água.
Portal Agrolink: O uso de inoculantes e bioestimulantes para ampliar o acesso à água é destacado como uma estratégia importante. Como esses produtos funcionam no contexto da lavoura de algodão e qual é o impacto esperado na germinação, velocidade de emergência e equilíbrio fisiológico da planta?
Ewerton Dilelis: O uso de bioestimulantes na cultura do algodão é uma estratégia importantíssima para a formação de raiz em profundidade. E a cultura do algodão, ela por si só, ela já tem a característica de explorar profundidades de solo maior. Isso porque se trata de uma cultura perene, porém nós manejamos ela dentro de um ciclo anual. Então só aí já tem um grande desafio de conseguir de fato fazer uma raiz bem estruturada para suportar um ciclo que não necessariamente é o ciclo adequado para a cultura do algodão.
A gente ajusta isso, trazendo isso para dentro de um ciclo anual. Só como informação, a cultura do algodão, quando ela está com mais ou menos 60 dias, espera-se que ela tenha de altura, acima do solo, 35 centímetros de altura. Porém, quando a gente fala de profundidade desse sistema radicular, é esperado que ela tenha 90 centímetros de profundidade. Quase três vezes mais raiz, então olha como que a cultura tem uma capacidade de formação de raiz e ela é estimulada a fazer isso.
E por que isso acontece? Porque essa raiz bem desenvolvida no estabelecimento inicial, ele que vai suportar todo o enchimento e qualidade de fibra lá no final do ciclo. Só para se ter como ideia também, a cultura do algodão na fase de F1, que é a fase de flor, até a formação do capulho estar pronto para ser colhido praticamente, são levados em conta 50 dias para que esse ciclo todo se complete. E desses 50 dias, 50% se tem uma demanda, os primeiros 25 dias tem uma demanda muito alta por água. Então essa planta lá no final do ciclo, às vezes não tem condição climática favorável para ter água disponível para a planta. Então ela vai estar buscando água.
Realmente em profundidade para suportar a formação e a qualidade dessa fibra também lá no final do ciclo. Então, aqui a gente consegue concluir a importância que tem uma boa formação de raiz para sustentar a produção e a qualidade dessa produção no final do ciclo.
E o uso de IPO estimulantes aqui vai contribuir fortemente para dar velocidade de germinação, para dar uniformidade de emergência para a cultura do algodão e para fazer com que essa raiz tenha maior divisão celular, alongamento celular e consequentemente a gente consiga explorar esse perfil de solo de uma forma mais interessante para essa planta poder se sustentar e poder sustentar também altas produtividades.
Portal Agrolink: Diante dos prejuízos enfrentados pelas produções de soja e milho devido ao estresse climático, qual é a importância estratégica dos agricultores direcionando seus esforços para o cultivo de algodão? Como as práticas recomendadas podem contribuir para melhorar a rentabilidade da colheita de algodão em comparação com outras culturas afetadas por eventos climáticos adversos?
Ewerton Dilelis: De fato, 2023 foi marcado por um ano de forte estresse climático, isso pelas características de El Ninho, considerado um El Ninho forte, e tem impactos impactados tanto no norte quanto no sul do país. Inclusive, apontamentos feitos pela Conab de expectativa de produção de soja, para o mês de dezembro, foi apontado 160 milhões de toneladas, como expectativa, isso 2,2 milhões a menos do que apontado no mês anterior. Então, de acordo com o andamento da safra e a análise climática, como isso tem impactado, os ajustes na expectativa de produtividade foram feitos.
E como também postergou o plantio de soja em função do cenário climático não tão favorável para o estabelecimento inicial da cultura, só que também a gente tem um grande desafio de implantar a cultura do milho dentro de uma janela que seja favorável. Além do fato que a. A cultura do milho teve uma redução de preço e nesse sentido uma grande dificuldade de buscar uma boa rentabilidade na cultura.
Isso quando comparado com outras alternativas que o agricultor pode buscar agora na segunda safra e quando a gente olha para a cultura do algodão ela tem se tornado interessante, uma alternativa para o agricultor buscar uma rentabilidade na cultura, mas aí vale muito levar em consideração, ainda analisar muitos dados climáticos, entender as práticas de manejo para realmente maximizar os ganhos e minimizar as perdas e aumentar a rentabilidade do agricultor porque a gente está falando de uma cultura com custo de produção elevado e aí não tem margem para errar.
O agricultor tem que ser muito assertivo na adoção dessas práticas desde o estabelecimento inicial da cultura do algodão, isso já está pensando lá na fase de enchimento de maçãs. Formação da fibra, do capulho, então é importante que o agricultor se atente no manejo levando em consideração o que ele espera produzir e tendo sempre como plano de fundo ali o clima, para que ele possa interpretar o clima e as necessidades da cultura para melhor manejar . Dessa forma ele vai conseguir maiores rentabilidades na cultura.
Fontes: Agrolink e Globo Rural