O ano começa com uma demanda do agro que não é nova, mas é urgente: dar prosseguimento ao arcabouço regulatório para os bioinsumos utilizados nas lavouras, principalmente aqueles que poderão ser fabricados nas propriedades rurais (on farm). No início de dezembro, a comissão de constituição e justiça da Câmara dos Deputados aprovou um projeto de lei que regulamenta a produção, a comercialização e o uso de bioinsumos agrícolas no Brasil. Mas ele ainda não se tornou lei.
O mercado de insumos biológicos é crescente em todo o mundo, com um grande peso do Brasil pela dimensão da produção agrícola do país. Entre os vários tipos, de acordo com a Fortune Business Insights, o mercado global de biopesticidas foi estimado em US$ 6,51 bilhões (R$ 33,6 bilhões na cotação atual) em 2022, com estimativa de US$ 18,15 bilhões (R$ 93,7 bilhões) em 2029, um crescimento de 15,77% no período. Em biofertilizantes, a estimativa feita para 2022 foi de US$ 2,02 bilhões (R$ 10,4 bilhões), chegando a US$ 4,47 bilhões (R$ 23,1 bilhões) em 2029, um crescimento de 12,04%. E para os bioestimulantes (microrganismos, extratos, enzimas, etc) a estimativa era de US$ 3,14 bilhões (R$ 16,2 bilhões) em 2022, indo a US$ 6,69 bilhões (R$ 34,5 bilhões) em 2029, um crescimento de 11,43%.
Bioinsumos são organismos vivos, como bactérias, insetos ou plantas, usados para melhorar a fertilidade do solo ou para o controle de pragas e doenças nas lavouras, em substituição ou complementação ao uso dos defensivos químicos tradicionais (agrotóxicos). Eles estão conectados a oito das 17 ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável), as metas globais estabelecidas pela Assembleia Geral das Nações Unidas, incluindo ODS 1 (eliminar o fosso da pobreza global), ODS 2 (acabar com fome), ODS 3 (melhorar a nutrição), ODS 6 (abastecimento de água), ODS 8 (engajamento econômico), ODS 12 (eliminar o desperdício de produtos), ODS 14 (aquacultura) e ODS 15 (agricultura da terra).
No ano passado, ao analisar o cenário de preços em alta para os fertilizantes afetados pela pandemia de Covid-19, Mohamed Eida, oficial de Nutrição Vegetal da FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura), reforçou que a entidade aposta nos bioinsumos como parte de uma solução para a crise global de alimentos, embora não no curto prazo.
“A médio e longo prazo, esta é uma oportunidade para começar a construir uma cadeia de valor de alternativas como biofertilizantes, que geralmente são mais gentis com o meio ambiente e adicionam uma opção extra de construção de resiliência que pode ajudar a sustentar a segurança alimentar.”
A FAO reconhece que os países já estão desenvolvendo estratégias, políticas e investimentos para acelerar as tecnologias, mas elas precisam acontecer muito mais rápido e em maior escala. Neste ano, um dos palcos de discussões de políticas, estratégias e tecnologias acontecerá nos dias 17 e 18 de agosto, em Istambul, Turquia, no ICBA 2023 (17ª Conferência Internacional de Biofertilizantes e Agricultura), que reúne cientistas, acadêmicos e pesquisadores.
O uso de bioinsumos nas lavouras tem duas qualidades que os alçam a um lugar muito confortável para que seu emprego seja acelerado no agro. A primeira é que eles funcionam, embora haja desafios de manejo e tecnologias inovadoras ainda são necessárias. A segunda é o fácil entendimento de seus benefícios por parte dos consumidores, que cada vez mais são arredios em relação aos agrotóxicos, agroquímicos, ou mais precisamente herbicidas/pesticidas, como são chamados os produtos que combatem pulgões, cochonilhas, lagartas, percevejos, mosca, fungos, ácaros, entre outros, e que atacam lavouras no mundo todo.
Fonte: Forbes