O Brasil é uma potência agrícola e ambiental, mas precisa atrair mais investimentos para explorar melhor essa vocação, defende o brasileiro Rodrigo Santos, líder global da Bayer Crop Science, a divisão agrícola da multinacional. Para ele, esses investimentos podem ocorrer via startups, empresas e instituições públicas e privadas e até mesmo pelo mercado de capitais.
“Está acontecendo, mas temos a oportunidade de multiplicar por 10, 20, 30 vezes [os investimentos]. O ideal, para os próximos dez, 20 anos, é ter um volume muito grande, pensar em como construir uma rede para atrair esses investimentos. Se existe um negócio que o Brasil tem a oportunidade de ser competitivo é ser potência agrícola e ambiental.”
Santos conversou com jornalistas brasileiros na semana passada, durante o 2023 Innovation Summit, promovido pela Bayer, em Nova York. A divisão agrícola apresentou sua visão de negócios, baseada na ampliação das soluções atuais e em segmentos chamados de “adjacentes”, como biocombustíveis, fertilização e fixação biológica, além de agricultura digital.
Só com seu portfólio principal (sementes e defensivos), a área de Crop Science está inserida em um mercado que movimenta 100 bilhões de euros no mundo. Ampliando a atuação, Santos avalia que o potencial a ser explorado dobra.
No ano passado, a divisão agrícola faturou 25,17 bilhões de euros. Com a ampliação do portfólio e a entrada em segmentos novos, o cálculo é de um potencial de vendas superior a 30 bilhões de euros anuais.
Novos projetos
Entre os principais novos projetos da multinacional estão uma cultivar de arroz para semeadura direta e um milho com estatura menor que a de outras variedades. Por meio da empresa CoverCress, da qual é acionista majoritária, a Bayer iniciará a venda de culturas de cobertura vegetal de solo com potencial de produção de combustíveis renováveis.
Até o fim da década, a multinacional planeja colocar no mercado uma nova linha de herbicidas para o controle de plantas daninhas em grandes áreas. E desenvolve uma linha de fungicidas de amplo espectro, para diversas culturas.
Biológicos
Só no mercado de biológicos, a Bayer projeta um salto em suas vendas globais, de 200 milhões de euros em 2022 para 1,5 bilhão de euros até 2035. A avaliação é que o segmento deve dobrar de tamanho no mundo.
Apesar disso, Santos considera que os defensivos de base biológica devem permanecer como ferramentas complementares por longo tempo. Para ele, controles efetivos de pragas e doenças em larga escala ainda demandam o uso de químicos. “A gente não consegue ver em um horizonte de 30, 40 anos que não vai mais se precisar dos químicos. Continuarão a ser a principal fonte de receita da organização. O que vamos fazer é adicionar oportunidades”, disse.
Com essa visão, ele associa mesmo o uso de agroquímicos, como o glifosato, desenvolvido pela Monsanto (adquirida pela Bayer), à agricultura regenerativa, uma frente em que a empresa aposta. Os planos da Bayer preveem incentivar a prática em 161 milhões de hectares em escala global até meados da próxima década.
“Um dos principais conceitos da agricultura regenerativa é esticar carbono no solo, e você só consegue fazer isso com plantio direto. Por isso, o glifosato continua sendo uma ferramenta muito importante. Encontrar um substituto é um desafio muito grande. Conseguimos desenvolver um herbicida de amplo espectro, mas ainda, assim, vemos como complemento, não como substituição”, disse.
No plantio direto, herbicidas como o glifosato são usados no controle de plantas daninhas e para auxiliar na formação de cobertura vegetal do solo.
Santos disse ainda que o Brasil perde oportunidade quando coloca agricultura e meio ambiente em lados opostos. E a aplicação da tecnologia é a base para uma produção mais sustentável.
Em sua avaliação, o agro brasileiro precisa ser inserido no mercado de carbono, comercializando o que está associado às áreas preservadas e também o carbono sequestrado pela própria produção agropecuária. “ É fundamental que o Brasil faça uma regulamentação do mercado de carbono”, disse.
Reprodução: Globo Rural