Produtores de leite gaúchos realizaram um protesto neste domingo (27/8), durante a Expointer 2023, em Esteio (RS), pedindo ações contra a crise no setor, que vem sofrendo com a redução dos preços pagos pelo produto e com a competição com lácteos importados de países do Mercosul.
Liderados pela Associação dos Criadores de Gado Holandês do RS (Gadolando), os produtores instalaram uma faixa que afirma que “estão matando” os produtores de leite e que será difícil recuperar o setor.
Segundo o criador Marcos Tang, que também preside a Gadolando, a forte entrada de produtos lácteos de países do Mercosul tem derrubado os preços do leite abaixo dos custos de produção. O dirigente afirmou que, no Rio Grande do Sul, o valor médio pago ao produtor pelo litro de leite está em R$ 2,17. No entanto, o custo médio de produção para um litro de leite no Estado está em R$ 2,25.
“Há uma insatisfação geral dos produtores”, disse Tang. O presidente da Gadolando afirmou que, agora, existe um agravante: o preço do leite vem caindo no inverno, uma época que, tradicionalmente, os valores eram maiores.
“Os criadores geralmente aproveitavam esta época para fazer caixa a fim de suportar financeiramente o verão, quando os preços eram menores. Mas, desde maio, as cotações vêm caindo. Todos estão preocupados como vão suportar economicamente o verão”, afirma o presidente da Gadolando.
Segundo Tang, entre 2022 e 2023, apenas no Rio Grande do Sul, 12 mil produtores de leite abandonaram a atividade. Em 10 anos, afirmou, o número de produtores gaúchos de leite caiu de 100 mil para 30 mil famílias.
“É um grave problema socioeconômico que está se criando. A maioria desses produtores vive em pequenas propriedades, que não têm condições de plantar grãos, como a soja. Então eles não possuem muitas alternativas econômicas fora do leite”, lamentou.
Criador de gado leiteiro já planeja desistir da atividade
Felipe Zaro, criador de gado holandês de Carlos Barbosa, na Serra Gaúcha, é um dos produtores que pensam em abandonar as atividades. “Toda a parte financeira está muito difícil. Em outros anos os insumos estavam caros, mas o preço do leite ainda compensava. Agora, estamos vivendo uma baixa de preço até no inverno. O que vai ser de nós no verão, quando a cotação cair novamente?”, questionou.
Zaro disse estar recebendo R$ 2,34 pelo litro de leite, valor que não cobre todos os custos. “Não temos como compensar. Usamos financiamento, e depois damos de jeito de pagar. Se não pagar com o preço do leite, vamos pagar com descarte dos animais”, afirmou.
O produtor acredita que, se não houver mudanças na remuneração do leite e na taxação de importações, talvez tenha de abandonar a atividade para produzir feno e silagem. “Na minha comunidade, existem 30 produtores de leite. Se as coisas seguirem assim, em cinco ano, não sei se restarão cinco deles”, lamentou.
Produtores pensaram em boicotar a Expointer
A instalação da faixa no pavilhão foi a segunda alternativa de protesto escolhida pelos produtores de leite. Segundo Tang, houve inclusive uma ideia de os criadores de gado leiteiro boicotarem a Expointer 2023 para chamar a atenção para a crise do setor.
O presidente da Gadolando afirmou que um documento do setor, alertando para a crise econômica dos produtores de leite e recomendando a taxação das importações do Mercosul deverá ser entregue, nesta semana, ao ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, durante sua visita à Expointer 2023, que deve ocorrer na sexta-feira (1/9).
Importações
Segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea Esalq/USP), as importações brasileiras de lácteos aumentaram 148% entre junho de 2022 e junho de 2023. Em relação ao leite em pó, as compras externas aumentaram ainda mais: 234,11% no período, sendo os principais fornecedores o Uruguai, a Argentina e o Paraguai.
No primeiro semestre de 2023, as importações somaram mais de 1,09 bilhão de litros em equivalente leite, quase três vezes acima do volume registrado no mesmo período do ano passado.
Recentemente, o governo federal anunciou aumento da alíquota de importação de lácteos de fora do Mercosul de 12% para 18% para queijos processados, além da compra de leite em pó para equilibrar a oferta no mercado doméstico.
No entanto, para Tang, as medidas não resolvem o principal problema do setor. “Precisamos que sejam taxadas as entradas de leite em pó, queijo muçarela e leite UHT do Mercosul. Caso contrário, estaremos matando o produtor brasileiro de leite para sustentar nossos concorrentes”, afirmou.
Tang também destacou os relatos de de reidratação do leite em pó proveniente do Mercosul, assim como a possibilidade da práticas de triangulação e dumping nos produtos lácteos dos países vizinhos. “Precisamos que isso seja investigado”, disse.
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Fonte: Globo Rural