“Em 25 anos de lavoura, a gente nunca viu uma situação dessas”, diz o produtor de soja Jonny Chaparini, de Montividiu (GO), a 45 km de Rio Verde. A estiagem tem castigado a região, que já contabiliza perdas na agricultura.
Segundo Jonny, o nível de temperaturas altas, que passou da média de 37º C para até 42º C – número elevado para muito mais no solo – somado à pouca quantidade de chuvas, surpreendeu até os agricultores mais experientes e baixou as médias de produção nas plantações de soja. “Teremos perdas que devem girar entre 15% a 25% em relação a anos anteriores”, comenta Jonny, que preside o Sindicato Rural da cidade.
O clima afetou principalmente a soja precoce, de ciclo curto, que foi plantada em outubro e está sendo colhida agora. Mas a previsão, de acordo com Jonny, é de que também haverá perdas nas lavouras de ciclo médio. Somente a soja que foi plantada na última janela deve ter colheita dentro do normal.
O presidente do sindicato conta que as chuvas foram diminuindo entre os meses de outubro a dezembro – sendo que no último mês de 2023 choveu em torno de 53 milímetros, apenas, na região. “Em Montividiu, onde temos altitude média de 800 metros, a planta precisa de cerca de 6,8 mm a 7 mm de água por dia para crescer”, explica Jonny, que também é engenheiro agrônomo.
Jonny acrescenta que, com a estiagem, o solo quente “cozinha” a planta, que acaba morrendo. Aquelas que permanecem na lavoura têm o metabolismo afetado pelo estresse hídrico, o que causa problemas como abortamento de flores e vagens e redução do tamanho e do peso do grão.
O sindicato tem vários registros de produtores de soja que retiraram a plantação de soja, devido às condições das plantas, e substituíram a cultura por outras, como feijão e arroz.
Jonny cultiva a soja em uma área de 150 hectares em Montividiu – onde ele estima uma quebra de 23% – e em uma área de 1.000 hectares em Montes Claros de Goiás, a 187 km. Nessa área, ele ressalta que as altas temperaturas ocasionaram escaldadura na lavoura e o replantio foi necessário por duas vezes: “o calor matou, a gente replantou, o calor matou de novo e a gente novamente replantou”. Ele acrescenta que, nessa área, se não chover nas próximas semanas, as perdas serão ainda mais significativas.
Montes Claros de Goiás está entre os 25 municípios que fazem parte do decreto de situação de emergência do governo do Estado, publicado na última segunda-feira (5/2) devido à falta de chuvas e do impacto considerável na produção agrícola. Já Montividiu não está contemplado e, segundo Jonny, o sindicato solicitou providências às autoridades municipais e estaduais, mas ainda não obteve respostas.
A situação na propriedade de Jonny não é isolada. O índice estimado de replantio das propriedades agrícolas de Goiás é de aproximadamente 8%, segundo a Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg).
“É um percentual bastante elevado de replantio e de perdas financeiras para o produtor”, avalia Leonardo Machado, assessor de Agricultura da entidade.
A Faeg acredita que as perdas nas lavouras de soja do Estado, na safra 2023/24, devem ficar entre 18% a 23%, atingindo em torno de 3 milhões de toneladas do grão.
A colheita já está em andamento em Goiás, mas 90% da soja ainda está no campo. A previsão de safra, divulgada esta semana pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), traz redução de 11% frente à safra passada, com produção estimada de 15,9 milhões de toneladas.
Leonardo reforça que o clima com predomínio de altas temperaturas e baixo volume de chuvas afetou as lavouras plantadas mais cedo: “terão perdas grandes com produtividade muito baixa”.
O porta-voz da Faeg lembra que, com o decreto de situação de emergência, os municípios listados têm maior facilidade para encampar ações de socorro aos produtores como renegociação de dívidas e benefícios no pagamento de tributos. “O decreto é o primeiro passo para que essas medidas possam ser aplicadas”, observa.
O produtor Pedro Hugo Moraes Rezende, de Paraúna – um dos municípios contemplados no decreto – está colhendo a soja plantada em 1.030 hectares e iniciando o plantio de milho.
Ele estima uma quebra de 8% na lavoura de soja, uma vez que apenas a soja precoce foi afetada pelo estresse hídrico na propriedade. “Mas tenho vizinhos com previsão de perdas na soja girando em torno de 20% a 25%”, conta.
Pedro ressalta que, além do clima, a questão do mercado da soja desanima os sojicultores, já que a commodity está com preços muito baixos atualmente. “A maioria dos produtores não fechou contratos antecipados. Com a quebra na lavoura somada ao custo elevado da produção e aos preços atuais, infelizmente a conta não fecha”, adverte.
O produtor comenta que, enquanto a saca de 60 kg de soja está sendo vendida a R$ 100, R$ 102 no momento, ele comercializou 70% da produção antecipadamente, a um preço médio de R$ 125 a saca. E dá a dica: “fomos fechando contratos ao longo do ano passado. Não dá a margem que gostaríamos de ter em comparação aos últimos anos, mas dá para manter a atividade”.
Fonte: Globo Rural