A seca mais severa desde 1950 finalmente deu uma trégua no Brasil. A chuva, que demorou a chegar, começou a cair no Sudoeste de Goiás, conforme o monitoramento do Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais). Com isso, produtores da região iniciaram o plantio de soja, estendendo o trabalho até durante a noite para aproveitar as condições climáticas favoráveis e plantar rapidamente.
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O início do plantio sustenta as projeções iniciais de que o Brasil pode alcançar uma safra recorde na temporada 2024/2025. Segundo a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), a produção de grãos pode atingir 322 milhões de toneladas, o que representa uma alta de 8,3% em relação à safra anterior, severamente prejudicada pela seca. Caso as chuvas mantenham-se regulares, a nova safra deverá impulsionar as exportações e a economia do país, após um período de perdas em 2023/2024.
A soja será novamente o carro-chefe, com uma produção estimada de 166 milhões de toneladas. O Brasil, que é o maior produtor e exportador mundial da oleaginosa, vê na nova safra uma oportunidade de consolidar ainda mais sua posição no mercado internacional. A soja, utilizada tanto na indústria alimentícia quanto como ração animal, é fundamental para a balança comercial brasileira. Apesar do otimismo, as previsões ainda são cercadas de incertezas, principalmente devido à possibilidade de novas estiagens ou tempestades que possam afetar a produtividade.
Além da soja, outros grãos importantes como o milho também estão no radar dos produtores. No entanto, o atraso no plantio da soja pode impactar a “segunda safra” de milho. A prática, comum no Brasil, consiste em plantar milho ou algodão após a colheita da soja, em uma segunda janela de cultivo. Caso o plantio da soja atrase, pode não haver tempo suficiente para garantir uma boa safra de milho, especialmente em estados como Mato Grosso, principal produtor do grão no país.
Mesmo com esse possível impacto no milho, a Conab ainda espera um crescimento modesto de 3,5% na produção total de milho na temporada 2024/2025, garantindo, ao lado do recorde de soja, um desempenho positivo do agronegócio na economia brasileira em 2025.
O cenário climático, porém, ainda gera preocupações. De acordo com o Rabobank, embora as chuvas tenham retornado, elas ainda podem ser irregulares nos próximos meses, especialmente na região do Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia), onde o início do plantio de soja está atrasado. Francisco Diniz, meteorologista e ex-diretor do Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia), prevê que as chuvas continuarão no Cerrado, cobrindo estados como Mato Grosso, Goiás e Mato Grosso do Sul, o que poderá garantir uma boa safra de soja. No entanto, ele alerta para possíveis “veranicos”, períodos curtos de seca e calor, que podem limitar os ganhos de produtividade.
Mesmo com o retorno das chuvas, o ritmo do plantio ainda está abaixo do registrado no mesmo período do ano passado. Em 12 de outubro de 2024, apenas 9,1% da área esperada para a soja havia sido plantada, contra 19% no mesmo período da safra anterior. Isso ocorreu devido ao atraso nas primeiras chuvas e aumenta a preocupação com a janela de tempo disponível para a segunda safra de milho.
Além das questões climáticas, a economia também será diretamente impactada pela safra 2024/2025. O Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV Ibre) projetou que a agropecuária fechará 2024 com uma retração de 2,1% no PIB, reflexo da quebra de safra anterior. Para 2025, no entanto, com uma safra mais robusta, o crescimento da agropecuária poderá chegar a 5,4%, impulsionando também a recuperação econômica do país.
O Brasil se tornou líder global na exportação de milho e soja, e o desempenho dessas safras será fundamental para o crescimento econômico e para o setor agropecuário nos próximos anos. A retomada das chuvas marca um momento crucial para o setor, mas o clima ainda se apresenta como um fator de risco que deve ser monitorado de perto.
Fonte: O sul