A safra sucroalcooleira que se encerra (2023/24) foi marcada por um prêmio histórico do açúcar sobre o etanol, incentivando as usinas a direcionarem sua produção para a commodity em detrimento do álcool. Embora a expectativa seja de que a diferença entre os preços diminua na próxima temporada (2024/25), não é esperado que as usinas redirecionem suas unidades para a produção de etanol.
Os contratos do açúcar na bolsa de Nova York estão aproximadamente US$ 0,09 por libra-peso acima do preço do etanol hidratado para as usinas de Ribeirão Preto, convertido ao valor do açúcar. Embora essa diferença, que já foi de US$ 0,11 por libra-peso, deva diminuir na próxima temporada, não se espera que desapareça completamente.
Esse estreitamento da diferença entre os preços do açúcar e do etanol provavelmente refletirá uma redução na produção de etanol de cana. As más condições climáticas resultaram em uma colheita de cana abaixo das expectativas, pressionando a oferta. Willian Hernandes, sócio da consultoria FG/A, observa que “estão vindo dados muito ruins de chuvas”, prevendo uma redução de 5% na moagem na próxima safra, embora essa estimativa ainda possa mudar dependendo das chuvas do primeiro trimestre de safra.
A FG/A estima que a produção de açúcar possa até aumentar, devido aos investimentos em novas fábricas e na ampliação da capacidade de produção da commodity. Para a próxima safra, a consultoria projeta uma capacidade adicional de 2 milhões de toneladas e, para a seguinte (2025/26), mais 1,5 milhão de toneladas em capacidade.
Quanto ao etanol hidratado, a FG/A estima uma redução no volume total em 2,5 bilhões de litros em relação à safra atual, voltando aos níveis da temporada 2022/23. Hernandes prevê um cenário de convergência de preços entre açúcar e etanol, embora não a ponto de equilibrar completamente, estimando que a remuneração do açúcar, atualmente 50% acima do etanol, caia para 25% em 2024/25.
A recuperação dos preços do etanol, no entanto, depende do comportamento da demanda. Lívia Coda, analista da consultoria hEDGEpoint, aposta em uma recuperação do etanol caso o consumo do ciclo Otto cresça 2,5% este ano. Contudo, mesmo que os preços do etanol subam, eles ainda ficarão significativamente abaixo da remuneração do açúcar.
Marcelo Filho, analista da StoneX, considera que o fechamento da diferença entre os preços do açúcar e do etanol é uma tendência de médio prazo e gradual. No entanto, ele ressalta que o preço do açúcar não deve reagir rapidamente, já que a demanda continua crescendo e o mercado permanece apertado. A oferta crescente de etanol de milho também exerce pressão sobre as cotações, dificultando altas mais expressivas do etanol.
Fonte: Globo Rural